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Tributo ao Professor Melquíades Pinto Paiva (1930-2021)

Data de publicação: 21 de novembro de 2021. Categoria: Notícias

No último dia 16 de novembro de 2021 o Brasil perdeu um dos maiores pesquisadores e cientistas na área das ciências naturais – o professor Melquíades Pinto Paiva (1930-2021), que desempenhou papel fundamental na criação da Estação de Biologia Marinha, atual Instituto de Ciências do Mar – LABOMAR, ligado à Universidade Federal do Ceará – UFC. Além de ter sido o primeiro diretor do LABOMAR, também ocupou diversos cargos públicos importantes e escreveu vários artigos científicos e livros, entre os quais “A Universidade e o mar”, escrito em 1985 por ocasião dos 25 anos de criação do instituto.
A publicação possui prefácio do primeiro reitor da Universidade, Antônio Martins Filho, que além de contar um pouco da constituição do LABOMAR faz, em diversos pontos, uma exaltação do protagonismo do professor Melquíades nos estudos sobre a biologia marinha e o papel da Universidade no desenvolvimento regional.
Assim, trazemos o prefácio do livro supracitado, como uma dupla homenagem: ao prefaciador e ao autor da obra.

Os Caminhos do Mar
Antônio Martins Filho

“SEMPRE acreditei no homem que concebe uma ideia em que luta tenazmente para transformá-la em realidade. As pessoas fortes, geralmente definidas como obstinadas, porque não cedem à pressão de obstáculos aparentemente insuperáveis, merecem de minha parte um tratamento especial, porque sintonizam com a minha filosofia de vida. Em que sou, por formação e por temperamento, um inveterado ou incorrigível otimista – traço essencial de minha personalidade, ao longo de mais de oito décadas de existência.
Essas considerações afloram no momento em que examino as origens do meu relacionamento com o professor Melquíades Pinto Paiva, que conheci por volta de 1956, quando passei a ter contato mais direto com a Escola de Agronomia, então incorporada à Universidade do Ceará.
As minhas relações com o pessoal docente da Escola ainda não eram amistosas, em virtude do clima de insatisfação motivada pela transferência daquele estabelecimento de ensino, da Superintendência do Ensino Agrícola do Ministério da Agricultura para Ministério da Educação, ou mais precisamente, para a Universidade Federal por mim dirigida, na condição de reitor.
Felizmente as arestas foram sendo rapidamente eliminadas, graças à visão administrativa e competência técnica do professor Prisco Bezerra, Diretor da Escola. Juntamente com o professor Renato Braga, representante do corpo docente no conselho Universitário, tantos e tão relevantes serviços ambos prestaram à instituienda Organização, que de logo a Escola de Agronomia conquistou posição do mais alto relevo entre as poucas unidades que compunham a Universidade, na fase crucial de sua rápida e sólida implantação.
Naquele período, ainda bastante nebuloso, passei a observar a inquietação e as predileções de um assistente de ensino – o referido professor Melquíades, parente do Diretor da Escola, mas já com bastante personalidade e determinação para fazer valer, em tráfico de influência, o seu pensamento e as suas aspirações.
Aquiesci a seu pedido de audiência, a que compareceu, acompanhado do agrônomo e biólogo Rui Simões de Menezes, que já se destacava como técnico do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Este primeiro encontro ocorreu no início do segundo semestre de 1956, exatamente no momento em que estávamos profundamente preocupados em corrigir distorções verificadas no Ato de criação da própria Universidade.
Assim, muito embora eu tivesse de logo sintonizado com a ideia, por eles ventilada, da instalação de uma Estação de Biologia Marinha, que iria possibilitar maiores dimensões para a incipiente indústria da pesca no Ceará, fui bastante cauteloso e apenas solicitei que elaborassem um plano, definindo os objetivos, a estruturação e bem assim a previsão dos recursos que seriam necessários para o funcionamento do órgão pleiteado.
Decorridos alguns meses, a minha solicitação foi satisfatoriamente atendida, já agora com novos e sólidos argumentos e enumerados no documento de autoria dos aludidos biólogos.
A ideia estava praticamente vitoriosa, mas nada seria possível fazer de imediato, no sentido de transformá-la em realidade. É que outras iniciativas estavam sendo atendidas com prioridade, como ocorria em relação aos Institutos Básico, notadamente os de Matemática, Física e Química, cuja instalação e funcionamento precederam à criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.
Esse retardamento, aliás, não arrefeceu o movimento pró-fundação da Estação de Biologia Marinha, nem tampouco o entusiasmo sempre crescente do professor Melquíades Pinto Paiva.
A minha adesão pessoal ao movimento não suscitava dúvida. Tanto é assim que, em março de 1957, concordei em que o professor Melquíades estagiasse, durante vários dias, no litoral do Nordeste, a bordo do navio Toko Maru, pertencente ao Ministério da Agricultura e Floresta do Japão, a título de treinamento, relacionado com os estudos oceanográficos e de pesca experimental com “long line”. Esse treinamento se tornou possível em virtude de entendimentos previamente havidos junto à Divisão de Caça e Pesca do Ministério da Agricultura do Brasil e com a Superintendência da Valorização Econômica da Amazônia.
Com a minha reeleição para um segundo período administrativo no comando da Universidade, resolvi adotar medidas imprescindíveis para ordenar o crescimento extraordinário que estávamos experimentando e que poderia ficar em parte comprometido, se não agíssemos com muita segurança.
Com essa preocupação realizamos o Primeiro Seminário de Professores, ao longo de um semestre letivo, com a finalidade de firmar uma posição de natureza filosófica para a nossa instituição. Obtivemos êxito pleno completo, pois que chegamos à conclusão de que, como Universidade, teríamos necessariamente de cultivar o saber na sua elaboração, transmissão e preservação. Mas, como Universidade do Ceará, a nossa missão seria a de servir ao meio, cooperando com o poder Público na solução de problemas da comunidade. Em última análise, atendidas aquelas premissas, teríamos consequentemente de alcançar o Universal pelo Regional.
No Segundo Seminário, realizado em 1960, partíamos para uma análise geral das nossas atividades, com o objetivo de corrigir possíveis distorções e disciplinar aquele nosso crescimento, muito louvado no Ceará e no Brasil, mas que nos preocupava sensivelmente.
Surgiu assim o Planejamento para Seis Anos, no qual fora prevista a criação da pleiteada Estação de Biologia Marinha, veementemente defendida pelo professor Melquíades, com o apoio de outros mestres da Escola de Agronomia.
Não houve perda de tempo, pois em dezembro de 1960, preenchidas as formalidades estatutárias e burocráticas, baixei um Ato, instituindo o novo órgão universitário, que passaria a funcionar como Instituto Aplicado.
O primeiro Diretor da Estação de Biologia Marinha teria de ser necessariamente o professor Melquíades Pinto Paiva, cargo em que permaneceu até abril de 1976, sendo então substituído pelo professor Jáder Onofre de Morais.
Não seria aconselhável que eu tentasse sintetizar aqui as várias etapas brilhantemente percorridas pela Estação de Biologia Marinha que, em virtude da Reforma Universitárias de 1968, foi transformada em Laboratório de Ciências do Mar – LABOMAR. A sua rápida implantação, o atendimento aos seus objetivos específicos, o seu progressivo desenvolvimento, a formação de recursos humanos, as importantes pesquisas (inclusive as de leucemia em peixes) e tudo mais que vem realizando em benefício do Ceará e do Brasil – estão sistematicamente condensadas neste livro precioso, – A UNIVERSIDADE E O MAR – de autoria do professor Melquíades Pinto Paiva e que a Imprensa Universitária da UFC ora lançada à publicidade.
Em sendo assim, basta proclamar a alta relevância dessa cédula do nosso organismo universitário – o LABOMAR – e, principalmente, reconhecer os méritos do seu principal animador, o professor Melquíades Pinto Paiva que, sobre ser um eficiente executivo, um técnico de comprovado merecimento é, acima de tudo, um eminente cientista de proteção nacional e internacional, que conquistou o nosso respeito e que merece os nossos aplausos.”

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